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Séries, novelas e produções brasileiras – uma história

Entenda a jornada do audiovisual nacional das telenovelas e radionovelas ao streaming

Netflix, Hulu, Amazon Prime, Globoplay… As plataformas de streaming mudaram profundamente a forma como o apaixonado por séries e filmes acompanha seus programas favoritos. Na mesma plataforma, é possível assistir séries originais, dos mais diferentes países, e não menos importantes, séries brasileiras originais. Apesar do número considerável de produções tupiniquins na Netflix, como o recente sucesso Coisa mais Linda, ou a pioneira 3%, elas não esbanjam a popularidade de séries como Friends, How I Met Your Mother, Doctor Who, House of Cards no próprio Brasil.  

Segundo informações da própria Netflix.

Entretanto, o que não faltam são séries, novelas e produções nacionais de sucesso entre o público brasileiro.

“O mercado brasileiro é muito rico e dinâmico em talentos e histórias.Eu diria que este é o nosso principal atrativo, na Netflix: uma gama de gêneros, histórias e formatos”. Maria Angela de Jesus, diretora de produções nacionais da Netflix em entrevista ao AdoroCinema.

Origem e atualidade

Ao longo da história, as séries e novelas tiveram uma considerável evolução desde o rádio, chegando até as plataformas de streaming atuais. A primeira transmissão de rádio, no Brasil, ocorreu exatamente no dia 7 de Setembro de 1922, no centenário da independência brasileira, difundido um discurso do presidente Epitácio Pessoa. Infelizmente, apenas 80 receptores nas cidades de Niterói e Petrópolis captaram a quase inaudível transmissão.

É impossível falar do rádio e das novelas sem citar a Rádio Nacional, fundada em 1936, um marco, tanto cultural, quanto de audiência e nostalgia popular. A Nacional adaptava dramatizações de tramas literárias; levava a um público humilde, e muitas vezes, sem educação formal, peças teatrais em programas como o “Teatro em Casa”. As primeiras radionovelas, porém, surgiram apenas na década de 40, com a popularização do rádio, um luxo até então reservado a um núcleo limitado da população. 

A primeira novela seriada (que durava mais de um dia), foi a Gente de Circo, já em 1941. Logo no início da década, as produções são um sucesso. A radionovela Em Busca da Felicidade, primeira a marcar o imaginário popular, conquista o público e atinge altos índices de audiência. É um dos primeiros sucessos de novelas brasileiras; mas, claro, ainda sem o prestígio internacional. Durante a década, o rádio torna-se um acompanhante, um amigo cada vez mais presente das famílias, seja para escutar um jogo de futebol, acompanhar a novela favorita, ou simplesmente divertir-se.

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Por onde eram transmitidas as primeiras radionovelas. Foto: divulgação

Os anos 1950 são marcados pelo surgimento da televisão, ainda que o rádio tenha predominado nas famílias brasileiras. Direito de Nascer se tornou um clássico das radionovelas – a todo vapor até então. Vale destacar a TV Tupi, primeira emissora de TV nacional. A transmissão da imagem não demorou para atingir séries e novelas e cativar o público brasileiro: Alô, doçura! – o primeiro sitcom brasileiro -, inaugura uma nova era de transmissão de informações, entretenimento, cultura. Porém, como afirma a professora de radiojornalismo Sabrina Franzoni, no site “Mescla”, “o rádio não teve fim, mesmo com o televisor tendo maior poder publicitário”. O rádio, o meio de comunicação mais rápido de se transmitir uma informação, continua sobrevivendo até os tempos de internet.

Chegam os anos 1960, e temos o primeiro seriado 100% brasileiro, nascido do sonho do cineasta Ary Fernandes de dar um herói nacional ao Brasil, Bem, no fim das contas, esse herói foi um… guarda rodoviário! O seriado O Vigilante Rodoviário teve 39 episódios e foi líder de audiência em 1961.

Já nos anos 1970, estreia a primeira série mais “desafiadora” e fora dos padrões das novelas e seriados habituais; Malu Mulher, que abordava a vida de Maria Lúcia Fonseca, uma mãe solteira, tentando conseguir um emprego. Também estreiam a primeira versão de A Grande Família e Carga Pesada, da iniciante Rede Globo. Ambas tiveram novas versões futuramente.

Os anos 1980 e 1990, com sua efervescência social, política e cultural – a redemocratização brasileira, a maior liberdade conquistada pelos jovens e os movimentos contraculturais, como os punks -, refletiram nos programas e séries televisivas. Em diversos canais era possível acompanhar séries voltadas para o público adolescente, com tramas mais descontraídas e tratando de problemas enfrentados pelo público jovem. Armação ilimitada e Confissões de Adolescentes são exemplos. Nesse meio-tempo, já no final do século, a TV passa a produzir programas para as mais variadas idades e assuntos. Séries infantis, como Castelo Rá-Tim Bum e No Mundo da Lua, e de temática adulta, como A Justiceira e o imortal O Auto da Compadecida marcaram uma época de variedade cultural.

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O final do século foi marcado pelo aumento exponencial do número de produções. Foto: divulgação

O digital reconfigura o mercado

Finalmente, dos anos 2000 até os tempos atuais, a internet mudou profundamente como o brasileiro e os fãs de séries do mundo inteiro acompanham seus programas; assinaturas de canais pagos estão caindo a cada ano (de 18,67 milhões, em 2016, para 16,7 milhões em 2019, em um período de apenas 3 anos); as grandes empresas de cinema e televisão como Disney, Warner Brothers, e as independentes como Netflix e Amazon competem acirradamente para deter a maior porcentagem de público; é uma época de praticamente infinitas possibilidades de entretenimento.

Já no âmbito nacional, novas produções de todos os gêneros, metragens e públicos vêm conquistando espaço. Filmes como Tropa de Elite, Que Horas Ela Volta, Turma da Mônica Laços, das mais diferentes tramas, estão alçando as produções brasileiras a níveis internacionais. E ainda, novelas como Avenida Brasil, e até séries produzidas por brasileiros na própria Netflix (Coisa mais Linda), ilustram não só a cultura e sociedade brasileira, mas dão novos ares a uma história de seriados tupiniquins.

Posso afirmar que os profissionais do Rádio brasileiro estão entre os melhores e mais criativos do mundo. O conteúdo do Rádio no Brasil é o de mais alto nível. Tanto do ponto de vista da qualidade técnica quanto da criatividade, e muito competitivo.

Marcelo Braga, em entrevista a SERT/SC

Com as séries de streaming e a presença ainda marcante do rádio, “sobre o futuro, é difícil falar. No entanto, pode-se apostar que o ato de civilização – a fala humana – deve perdurar, sem dúvida. E será comunicada em diferentes suportes. E também os atos de ouvir, de escutar – tão preciosos para o humano, devem permanecer”, finaliza o professor Sérgio Endler, em entrevista ao site Mescla.