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“Racismo no esporte é retrocesso”

Atletas contam casos de racismo e apontam educação e denúncia como saídas

Por Maurício Herschander, Pedro Paulo, Rodrigo Matuck e Thiago Pansica

“Acho que estamos num retrocesso em relação ao respeito à diversidade. Parece que estamos voltando no tempo da colonização, em que apenas um tipo de raça é a que comanda o mundo. Falta muito amor, empatia e respeito ao próximo. Hoje, as pessoas se acham no direito de julgar as escolhas do outro, a sua cor, a sua sexualidade e o seu gênero.” Com essas palavras que o atleta de voleibol Gildemar Oliveira, 37, descreve a nossa sociedade.

Apaixonado pelo vôlei desde os dez anos, o jogador do time amador Fenerbouas, foi uma das vítimas deste mundo preconceituoso ao longo de sua trajetória no esporte. “Um dia um adversário me chamou de “preto lixo”, eu não deixei me abalar na hora, mas quando cheguei em casa fiquei muito pensativo e sofri muito para digerir”, relatou. 

Arquivo Pessoal
Gildemar atuando pelo Fernebuoas

Casos de racismo como esse não são raros. Em jogos pela Liga Nacional de Vôlei, o jogador Wallace, ao se preparar para um saque, ouviu de uma torcedora a frase: “vai lá, macaco. Volta para o zoológico”. Já a capitã da seleção brasileira, Fabiana, relatou escutar um senhor dizendo: “macaca quer banana”, “macaca joga banana”.

No rugby, a história do racismo se repete

Recentemente, no Campeonato Brasileiro, torcedores do time Ferrapos-RS começaram a bater nos bancos e imitar sons de macacos em uma partida contra a equipe do Jacareí.

“É muito triste ver que os esportistas que treinam, ralam e dão o sangue diariamente, sofram ofensas ao pisarem em campo. As pessoas de fora não enxergam isso, elas tem mente pequena, são racistas”, contou desapontado Samuel Porto, jogador de Rugby do time do INSPER.

Arquivo Pessoal
Samuel em jogo válido pelo Economíadas 2019

O atleta universitário relatou que já se sentiu muito decepcionado, ao acompanhar de perto situações “desconfortáveis”. No seu caso, seus próprios companheiros de equipe o discriminaram. Ao comentar sobre um churrasco do grupo, um deles disse: “vamos pegar um negro para usar de carvão”. “Na hora me senti muito ofendido, respondi, saí do grupo [de whatsapp] e fiquei alguns meses sem treinar”, completou Samuel.

Gildemar disse que nunca deixou o racismo se sobressair ao seu potencial. “Quem sofre não deve se calar, tem que denunciar e exigir atitudes para não ser apenas mais um.” 

Ele indica que a melhor forma de suprimir isso é com educação: “enquanto ficarmos mascarando a existência do racismo, nunca vamos combater. As crianças, jovens e adolescentes precisam ouvir mais sobre preconceito, e precisamos de figuras de referência na diversidade para apoiar as minorias”.