Olimpíadas 2020: Como andam os preparativos dos atletas para Tóquio
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Olimpíadas 2020: Como andam os preparativos dos atletas para Tóquio

O isolamento social certamente alterou a rotina de atletas olímpicos e de todo um time. Mas, de volta aos treinos, como está a preparação para as Olimpíadas 2020? 

24 de julho de 2020. Esta é a data de abertura dos Jogos Olímpicos em Tóquio de 2020. Mas, devido à pandemia de COVID-19, o evento foi adiado e todos os envolvidos precisaram segurar a ansiedade para a competição. Em casa e com novos desafios, atletas de todas as modalidades necessitaram se adaptar e continuar com uma rotina de treinos e preparação. Mas não estavam por conta própria. 

A equipe

A preparação de todos (as) atletas envolve aspectos que vão além da parte física. Os amparos nutricionais, psicológicos e fisioterápicos também são essenciais para os esportistas de alto rendimento, ainda mais em preparação para os Jogos Olímpicos, o maior evento esportivo do mundo. E, nesse período de isolamento social, a presença desses profissionais no dia a dia foi fundamental.

“Então, um profissional sozinho não vai conseguir o melhor do atleta, mas precisa da equipe. Tem uma importância desse trabalho multidisciplinar para que a gente consiga o melhor resultado possível, porque o mérito final é de todo mundo”, contou a nutricionista Bárbara Meirelles, 25 anos, pós-graduada em nutrição esportiva e funcional e ex-atleta de natação. Para ela, o papel de um nutricionista é imprescindível por ser algo que engloba várias áreas no esporte.

Bárbara entende que o papel do/a nutricionista dentro do esporte de alto rendimento é imprescindível. “É um coisa que engloba várias áreas no esporte, não apenas no pontual, que é a competição, mas desde a preparação até a competição. Para mim, é imprescindível um atleta ter um nutricionista”, completou. 

O conjunto de uma boa alimentação é necessário, a nutricionista destaca que o sono é parte fundamental para a recuperação muscular, pois hormônios são liberados a noite. Dietas restritivas não são recomendadas, e as suplementações entram apenas quando o nutricionista não é capaz de proporcionar na alimentação diária, mas nunca como um substituto automático. Assim, o trabalho de um nutricionista é conciliar um trabalho que é a melhora da performance com o objetivo dele. “Eu sempre falo isso com eles, que o atleta é o corpo dele, então tem que cuidar da melhor forma possível, pensando em performance”, conta. 

A nutrição se faz aliada com a preparação física, como conta o fisioterapeuta Raphael Mariano, de 31 anos. Para ele, para preparar um atleta, é necessário avaliar as individualidades, como fortalecimento e mobilidade, e pontuar qual área necessita de maior atenção. É partindo de testes e avaliações que toda a equipe consegue chegar à melhor condição física para que tenham melhor rendimento nos treinos técnicos e táticos. “A fisioterapia tem que estar unida ao preparador físico para que possamos trabalhar juntos”, relata. 

As adaptações

Acostumados a uma rotina intensa de treinamentos, muitas competições e com um espaço repleto de estruturas que potencializem seu rendimento, se preparar em casa foi um enorme desafio para todos (as) atletas. Procurando reunir a procura pela melhor preparação possível e o respeito às recomendações das autoridades médicas, os esportistas tiveram que readaptar e alterar as sessões de treinamento. 

“A gente passou por um processo pequeno de restrição. Já que as academias não funcionavam, tudo o que nós fazíamos antes teve que mudar. Tivemos que nos retrair para o negócio acontecer, para que os atletas não perdessem muito na parte técnica e física”, destacou Raphael, que tem ampla experiência na fisioterapia esportiva. Ele fala com orgulho sobre a evolução da prática. Sobre isso, relatou que não precisou fazer muitas alterações quando a pandemia o impediu de ir para o consultório. “O meu trabalho não foi tão afetado porque fazíamos muitas coisas pela internet”, disse. 

Em contraponto, Bárbara relatou que só fazia consultas presenciais porque o conselho nacional de nutrição não permitia a atuação remota. “Quando começou a pandemia, o conselho liberou o online e tive que fechar o consultório por três meses e me adaptar.” Apesar da adaptação, as consultas ficavam incompletas. “Muitos pacientes ficavam receosos por não ter a avaliação física.”, completa. 

Desafios 

Desafiador. Essa é a palavra que melhor define esse momento de preparação para as Olimpíadas de Tóquio durante o período de pandemia do novo coronavírus, e não só para os atletas, mas também para todos os profissionais envolvidos.  

Essa mudança da rotina de treinamentos gerou prejuízos do ponto de vista físico aos esportistas. “Na pandemia, a gente fazia apenas um (treino), então você imagina para um atleta de alto rendimento que tá no seu 100% cair para 30% de atividade, você perde agilidade, perde força. Trouxemos todos os materiais possíveis, mas era apenas um treino por dia, que é muito pouco”, pontuou Raphael. 

Com a diminuição da quantidade e intensidade dos treinos, os atletas ficaram mais suscetíveis a lesões. Dessa forma, conforme destacou Rafael, “hoje, o papel do fisioterapeuta não é mais só de quando atleta se machuca. Ele também tem um papel de tentar minimizar as lesões”. Com isso, o processo fisioterápico ganha ainda mais relevância, uma vez que, ao prevenir contusões, o desempenho físico e o aspecto psicológico dos esportistas não serão afetados. 

Além disso, o fisioterapeuta também reafirma a importância do acompanhamento por parte da psicologia oferecido pela Confederação Brasileira de Vôlei às suas pacientes, atletas do vôlei de praia feminino. “O que pegou mesmo foi a parte psicológica, ver as olimpíadas passarem e as expectativas já criadas serem interrompidas”, completa.  Para ele, o psicológico afetado se fazia tão visível quanto o físico.

Sobre a parte nutricional, Bárbara explicou que quando os atletas estão em fase de treinamento e competição, a demanda energética é muito alta e o plano de caloria é de quatro mil a cinco mil calorias. Mas, com a paralisação, os atletas precisaram manter alguma atividade em casa. “Muita gente ganhou peso agora na quarentena, para tentar manter ao máximo para se readaptar.”

Quando tudo parou, alguns atletas olímpicos não tinham disponibilidade de ter essa equipe técnica totalmente disponível. E, no retorno, muitos atletas perceberam a necessidade de possuir um acompanhamento. Bárbara e Raphael perceberam aumento na demanda de pacientes nesse momento. 

Olimpíadas Tóquio 2021

Ao perguntar sobre as metas, Bárbara relatou que a resposta é quase comum a todos: as olimpíadas. Todos querem estar no ápice de sua forma física e com o melhor rendimento, por isso, alguns atletas apreciaram o adiamento do evento. Em contrapartida, alguns atletas não aceitaram bem a paralisação por conta das vagas já garantidas em competições. 

A gente tinha um planejamento de seis meses, de janeiro a julho. Quando foi final de fevereiro, foi interrompido”, relatou o fisioterapeuta. Explicou que foi necessário refazer tudo, mas agora, a equipe e os atletas possuem um ano inteiro para se planejarem. 

Para os profissionais que atuam com todos os atletas, a prioridade é pensar no planejamento dia após dia. A nutricionista explica sobre a divisão das fases de treino dos atletas entre “macrociclos” (desde o início do treinamento até as Olimpíadas) e “microciclos” (fase por fase), e como isso é importante para elaborar o corpo e o emocional dos esportistas.

A base da vida do atleta é fundamental. Fisioterapeutas, nutricionistas, preparadores físicos, psicólogos, treinadores e toda a equipe por trás dos atletas não desistiram e continuaram trabalhando para que o time apareça em sua melhor forma, com pequenos esforços diários. O trabalho multidisciplinar é importante para que atinjam o melhor resultado final e no final, como ressaltou Barbára, o mérito é de todo mundo.

As Olimpíadas já foram canceladas por conta das guerras mundiais, mas esta é a primeira vez na história que o evento é adiado. Apesar de todas as dificuldades presentes, a ministra japonesa afirmou em setembro que as olimpíadas deveriam acontecer a qualquer custo. Por enquanto, torcedores, atletas, profissionais que auxiliam e o mundo já pode esperar um espetáculo que terá início em uma nova data:  23 de julho de 2021. 

Por: André Almeida, Giulia Deker, Karina Almeida e Leonardo Cavallaro

Imagem destaque/ Instagram: Tokyo2020