
“O Reino e o Poder” revela os bastidores do New York Times
Em narrativa envolvente, o jornalista Gay Talese explora o poder do jornal mais influente do mundo a partir de uma investigação em suas raízes familiares
Por Alexandre Zerbinato, Enzo Impalá, Gabriella Andrade, Isabella Gouvea, Marcela Malafaia e Rafaela Navarro
O Reino e o Poder não é apenas uma imersão nos corredores da antiga sede do New York Times – mas se fosse já seria interessante. É também a saga de uma família que começou com um pequeno jornal e transformou aquele negócio num império da comunicação. Coube a Gay Talese, o cultuado jornalista norte-americano, construir a narrativa definitiva desse periódico que acumula 137 prêmios Pulitzer, o mais importante de jornalismo e literatura do mundo.
Renomado escritor, jornalista e professor universitário, Talese tece uma envolvente narrativa em O Reino e o Poder. Nascido em 1932, em Nova Jersey, ele revela os bastidores do jornalismo e da política dos Estados Unidos, mergulhando na família Ochs, notável no cenário jornalístico. Tudo começa com a figura de Adolph Ochs, visionário editor que reergueu o Chattanooga Times e, depois, adquiriu o New York Times. Foi em 1896, ao comprar por 75 mil dólares o Chattanooga, que Ochs cunhou o clássico slogan “All the news that’s fit to print” (“Todas as notícias dignas de publicação”), até hoje presente no Times.
A relação tumultuosa de Adolph Ochs com seu irmão George, alguém de fortes opiniões, acrescenta complexidade e até certo drama à narrativa de Talese. A descendência jornalística segue com John Oakes (forma americanizada do sobrenome ‘Ochs’), filho de George, cuja carreira abrange jornalismo e ativismo pelos direitos civis e ambientais.
Talese não apenas oferece uma biografia, mas também aborda eventos históricos marcantes que contaram com a presença do Times, como as guerras mundiais, o nazismo, o naufrágio do Titanic, descoberta de uma falha na fórmula do cientista Albert Einstein e o assassinato do presidente John F. Kennedy. A narrativa não deixa de se entrelaçar com o cenário político e social, proporcionando uma compreensão mais profunda da influência do jornalismo em momentos-chave da história.
O livro explora também as intrigas e disputas por poder do jornal, não deixando de relacionar com uma reflexão sobre as tensões sociais da época. Gay Talese, quase como um professor que é, destaca a importância dessa história para jornalistas, oferecendo dicas valiosas sobre a dinâmica das redações e a resiliência necessária para enfrentar os desafios do ofício.
A obra de Talese não é apenas um relato histórico, mas uma jornada pela alma do jornalismo, onde as histórias pessoais se entrelaçam com os acontecimentos globais. O Reino e o Poder permanece uma leitura essencial para aqueles que buscam compreender não apenas o passado do jornalismo, mas também sua influência duradoura na sociedade.
Spoiler para as novas gerações: a leitura do livro pode se tornar maçante pelo excesso de detalhes, datas e nomes contidos nele, mas necessários para a humanização da história.