
“O Inverno da Guerra”, reflexões do front por Joel Silveira
O livro detalha a Segunda Guerra Mundial pela perspectiva de um jornalista correspondente que se encontra no campo de guerra
Por Nicole de Navincopa, Maria de Lourdes, Mariah Eduarda e Marina Tabarelli
“Você vá, mas não morra!”, foi o que ouviu do dono do jornal, Assis Chateaubriand. Joel Silveira aceitou o desafio e foi escalado para ser correspondente brasileiro na Segunda Guerra Mundial pelo “Diários Associados”.
O jornalista chegou à Itália no inverno de 1944 e acompanhou durante nove meses a luta dos soldados brasileiros, que faziam parte do grupo de países Aliados, até a rendição alemã. Narra a cobertura como se fosse um diário de bordo sua passagem pela Itália, onde esteve junto a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ele mostra os momentos de tensão, as trocas de informação com outros correspondentes que conhecia, os absurdos que aconteciam nos campos de guerra e o como era perigoso seu trabalho.
O autor usa durante o livro usando a linguagem lírica – descritiva. Assim, se referia ao ambiente da Segunda Guerra como frio, com constante cheiro de sangue velho e óleo diesel, que para ele era o real cheiro da guerra. De tão hostil que era o ambiente, ele afirma que o diabo estava ali presente.
“Então tinha início a exasperante rotina de todo dia, marcada do princípio ao fim por pequenos e grandes pesadelos. A coisa começava com o doloroso ato de deixar os sacos de dormir…Comumente dormíamos de ceroulas…mas quando o frio apertava mais, dormíamos praticamente como havíamos passado o dia, livres apenas das botas pesadas e enlameadas”, lembra o jornalista.
Em O Inverno da Guerra, Joel usa técnicas de reportagem com maestria durante seu relato, com apuração, uso de fontes, recursos narrativos e a técnica de narrador-observador. Ele relata aquilo que está na frente de seus olhos, mas sem ser um personagem daquela narrativa.
Um dos momentos mais importantes do livro é o capítulo que trata da tomada de Monte Castelo, quando o repórter anota, detalhadamente, todos os passos da FEB para tomar o local.
O autor não morreu na guerra, como havia lhe ordenado Chateaubriand, seu patrão. No entanto, ele afirma em um trecho: “Não foi exatamente por delicadeza que naqueles nove meses perdi parte da minha mocidade, ou o que restava dela. A guerra, repito, é nojenta, e o que ela nos tira (quando não nos tira a vida), nunca mais nos devolve”.
Esse livro segue sendo um grande marco no mundo jornalístico, uma vez que descreve um testemunho histórico, com informações detalhadas de uma guerra que podem ser encontradas em primeira mão nos relatos de Joel. E também há muita pesquisa e documentação. Futuros jornalistas podem se inspirar nessa obra para escreverem suas reportagens.
O Inverno da Guerra. De Joel Silveira. Objetiva, 2005, 176 págs., 75 reais.