
Como “Medo e delírio em Las Vegas” inovou o jornalismo
Uma viagem psicodélica à cidade do pecado, com o jornalista Raoul Duke e o advogado Dr. Gonzo.
Por Giovanna Basso, Giovanna Rodrigues, Livia Nomoto, Mariana Alves, Isabela Miranda, Isadora Mucilo
Medo e Delírio em Las Vegas, descrito como uma história de ficção baseada na realidade, é um livro de Hunter S.Thompson do início dos anos 1970. O contexto histórico-cultural da obra é marcado pelo movimento da contracultura e da geração dos hippies, que questionavam e negavam os padrões e a cultura vigentes. Na história, é a oportunidade para Thompson produzir uma contundente crítica em relação ao idealizado “sonho americano”.
Na história, o jornalista Raoul Duke (alterego de Hunter Thompson), e seu advogado, Dr Gonzo (Oscar Zeta), vão em direção a Las Vegas para cobrir uma corrida de motocicletas e também estão na busca pelo “sonho americano”. Durante essa viagem, eles consomem uma enorme quantidade de drogas, como o ácido e a cocaína.
Ao longo da jornada, o objetivo inicial acaba sendo esquecido. Raoul Duke nem estava mais sabendo a pauta a qual precisava escrever. Nem ao menos sabia quem havia ganhado a corrida de motocicletas.
As viagens psicodélicas dos personagens são reflexos da vida que o jornalista levava. Hunter Thompson era viciado em drogas. Sua escrita em Medo e Delírio em Las Vegas é tida como um marco do estilo “jornalismo gonzo”. Ele fazia questão de citá-la minuciosamente durante a história, como quando Duke finge ser policial para comprar ácido sem prescrição médica e logo aspira na frente da balconista que o atendeu.
O jornalismo gonzo é marcado por ter o repórter como um integrante do enredo. É considerado uma vertente do novo jornalismo (new journalism), que procurava juntar características literárias com a tradicional objetividade das notícias. O diferencial desses dois tipos de abordagem é narrar a história como um acontecimento pessoal, e não apenas como um fato.
Todas as aventuras e devaneios do livro evidenciam a importância da quebra de padrões do jornalismo, permitindo a escrita das mais variadas e inimagináveis formas.
A falta de foco e os devaneios excessivos apresentados em Medo e Delírio em Las Vegas podem se constituir em um problema e não apenas uma qualidade para quem espera uma narrativa convencional. Em vários momentos, é como se Thompson perdesse o raciocínio, na maioria das vezes em decorrência do uso das mais variadas drogas. Vale ressaltar que o autor possui um domínio descritivo, a fim de nos transportar até o local da história.
O improviso de Duke ao fazer a reportagem da Mint 400 é chocante, visto que o mesmo não assistiu à corrida. Ele deu um jeito de concluir a matéria, evidenciando que os jornalistas devem possuir cartas na manga em todos os momentos. Também é evidente a forte melancolia que o enredo apresenta, decorrente da época da Guerra do Vietnã e toda tensão que enfrentavam.
Por sua inovação e seu rompimento com o jornalismo tradicional, Hunter Thompson foi contratado pela maior revista de contracultura dos EUA da época, a Rolling Stone. E foi nesse lugar que ele publicou os artigos, que se tornaram o seu maior sucesso: Medo e Delírio em Las Vegas.