
“Chico Mendes, Crime e Castigo”, o líder seringueiro e o assassinato
A investigação da morte de um dos grandes defensores da preservação da floresta amazônica, Chico Mendes, contada sob a perspectiva de Zuenir Ventura
Por Giovanna Bambirra, Beatriz Lopes, Fabio Luigi, Luan Salas, Mateus Monteiro, Isabella Lura
Chico Mendes, Crime e Castigo, do jornalista Zuenir Ventura, engloba as reportagens que ele fez no Acre, conduzindo uma investigação profunda para compreender os eventos que cercaram o assassinato do líder seringueiro. Este livro é exemplar de como se deve praticar o jornalismo investigativo: explorando múltiplas fontes, realizando muitas entrevistas e buscando, incansavelmente, desvendar os segredos e motivações por trás de um fato.
O livro é dividido em três partes, correspondendo às reportagens que Zuenir Ventura fez. A primeira contextualiza o crime, ocorrido em março de 1989. A segunda parte, o castigo, conta do julgamento dos assassinos Darli Alves Pereira e Darcy Alves da Silva em 1990. A terceira se refere à viagem que o jornalista fez 15 anos depois, quando revisitou a cidade de Xapuri, palco do crime. Narrado em primeira pessoa, Zuenir trabalha no livro com fatos além do “crime e castigo”, como os bastidores das entrevistas e de suas viagens. Durante a narrativa, há também uma contextualização da época, conectando-a a aspectos sociais, políticos, individuais e culturais, o que traz uma imersão maior à história.
A referência à obra-prima de Fiódor Dostoiévski não é à toa. Em Crime e Castigo, o escritor russo conta a história ficcional de um jovem que comete um assassinato e tenta justificar seu ato brutal invocando temas universais como culpa, redenção e miséria. Em Chico Mendes, Zuenir faz, assim como o clássico da literatura mundial, uma grande descrição em tom realista, transportando o leitor para a história que ocorreu em Xapuri.
No caso da morte do líder seringueiro, Zuenir Ventura tem o mérito de ter acompanhado de perto os acontecimentos em torno do crime. Logo após a morte de Chico Mendes, o jornalista contactou pessoas que viviam próximas a ele, como a esposa Ilzamar, presente na casa. Outro personagem recorrente é o garoto Genésio Ferreira da Silva (13 anos à época), um dos jovens que vivia na fazenda Paraná, junto a Darly, considerado um dos grandes “rivais” de Chico e o mandante do assassinato, e seu filho, Darci, sendo o possível “autor do crime”.
Ao longo da história, Zuenir passa por momentos que exigem muito de um jornalista investigativo. Ele não desiste nunca. Chegou, por exemplo, a ir até a penitenciária da cidade entrevistar os dois principais suspeitos do crime, Darly e Darci, e, com a polícia, viu a reconstituição da cena do crime. Esse episódio foi a base para o julgamento que foi realizado no final de 1990 pelo juiz Aldair Longuini.
A leitura dessa obra é indispensável entre os livros-reportagem brasileiros. Zuenir Ventura ganhou diversos prêmios, como o Esso de Jornalismo e o Prêmio Vladimir Herzog, dois dos mais importantes prêmios de literatura e comunicação.