
“Cabeça de Turco”, a vida degradante dos imigrantes turcos na Alemanha
Günter Wallraff, ícone do jornalismo investigativo alemão, começou a publicar livros durante a década de 1970 para denunciar situações vividas por trabalhadores. Mas o jornalistadesejava ir além de contar o drama de seus personagens. Queria narrar o que era ser, ele próprio, vítima da exploração capitalista.
Em 1985, a obra Cabeça de Turco foi publicada, expondo a visão de um estrangeiro em uma sociedade extremamente xenofóbica como a da Alemanha. Günter Wallraff se disfarçou com perucas e lentes de contato escuras. O autor usa do jornalismo narrativo para ambientalizar e aproximar o leitor. Cada mínimo detalhe dos acontecimentos é descrito em primeira pessoa, como uma espécie de diário. O mesmo recurso ele emprega para caracterizar os traços físicos dos personagens, seus colegas de “trabalho”.
É importante lembrar que na data de escrita no livro, a Guerra Fria ainda era uma realidade e as vivências descritas são da parte ocidental da Alemanha. Além da ausência de medidas protetivas aos trabalhadores, a necessidade de lucro iminente na porção capitalista do país era maior do que nunca. Fingindo-se de imigrante, e contando com o apoio da imprensa sindicalista, o autor passou de trabalhos regulamentados em franquias de fast-food até empregos descritos como ilegal. Em ambos, a exploração era enfrentada durante todo expediente.
No McDonald, rede vista como exemplo de futuro e evolução do sistema econômico vigente, Ele foi reprimido em toda sua jornada como funcionário. Mesmo dentro da legalidade, o tempo de jornada era abusivo e o tratamento também. O “imigrante turco” ouvia falas de desprezo a todo momento, assim como em vários outros ambientes.
Já na Thyssen, empresa de construção, as humilhações eram combinadas com o trabalho sem regulamentação. As consequências de ser uma mão de obra explorada não eram refletidas apenas no expediente. Problemas de saúde surgiam por causa das condições insalubres que os proletários precisavam aceitar. Por conta da alta eminência de detritos tóxicos, o pulmão do jornalista foi totalmente comprometido e precisou recorrer a tratamentos médicos para tentar melhorar. Porém, os próprios trabalhadores diziam: Uma vez doente, sempre doente.
Por não estar tão distante temporalmente, a Segunda Guerra Mundial e o horror do Holocausto são citados frequentemente pelos patrões ao longo de Cabeça de Turco. Frases como “Logo vai aparecer um novo Hitler. Pode ter certeza!” eram ditas para frisar a necessidade de ter um povo submisso à alta sociedade alemã, sejam judeus ou imigrantes.
Cabeça de turco é um livro impecável para entender a situação de repressão a uma minoria étnica. Como jornalista, o autor consegue transmitir a importância da profissão ser ligada a todas essas questões para ser um profissional ético. Günter Wallraff desconstrói o imaginário de uma Alemanha democrática e ordenada ensinado no Ocidente apresentando um ponto de vista essencial, o dos trabalhadores.