
A Guerra do Futebol: as memórias e os relatos de um correspondente de guerra
A narrativa jornalística de Ryszard Kapuściński que traz a tona conflitos mundiais que ele cobriu nas décadas de 60 e 70
Por Gabriela Guedes, Isabelle Fucidji Bignardi, Larissa Buzon Cardoso, Maria Eduarda Vieira, Maria Luiza de Alcântara. Matheus Greff e Renata Fiedler
O livro A Guerra do Futebol, publicado em 2005 na Polônia e em 2008 no Brasil, foi escrito pelo jornalista polonês Ryszard Kapuściński e narra os principais conflitos políticos dos anos 1960 e 1970. Constituído pela mistura de narrativas jornalísticas e relatos pessoais do autor, a obra é um exemplo de jornalismo literário.
Com base em anotações feitas por ele mesmo durante sua trajetória pela África, pelo Oriente Médio e pela América Latina, Kapuściński chega a produzir relatos sobre sua realidade nos países. A obra, que pode enganar quem espera um texto sobre o esporte popular, foi retirada do título de um dos capítulos, que narra “um confronto armado que durou cem horas” entre El Salvador e Honduras. Foram 6 mil mortos, mais de 12 mil feridos.
Naquele confronto, ele era correspondente de guerra da PAP (Agência de Notícias Polonesa), que anteviu a possibilidade de um confronto entre os dois países da América Central e decidiu estar lá durante a partida de futebol. Com seu olhar crítico, Kapuściński descreveu tudo o que viu e sentiu literalmente na pele.
O autor avança sobre a descrição da guerra do futebol, o que rende uma outra perspectiva para o leitor sobre o esporte. O futebol, ensina Kapuściński, é muito mais que apenas partidas.
Em outra passagem de A Guerra do Futebol, ele narra como foi vítima da violência de grupos de extermínio do Congo que desejavam vingar a morte de Lumumba, ex-primeiro ministro assassinado em 1961. Sempre por meio de uma descrição detalhada, o leitor é transportado para as cenas narradas. Kapuściński também aborda outros países em que ficou sujeito à violência, como na Nigéria. Naquele país, ele foi barrado por grupos de ativistas políticos.
O texto possui uma análise extensa dos impasses governamentais de países recém-independentes, da proeminência da Argélia no cenário internacional e, especialmente, das lutas de esquerda e antigovernamentais. A análise política é intercalada com segmentos de diários e histórias divertidas, algumas envolvendo esportes.
Com uma boa escrita e momentos tensos e decisivos, A Guerra do Futebol capta a atenção do leitor, mas tem certos pontos desestimulantes. Ao se preocupar em abordar e traçar perfis de chefes de Estado e políticos, o jornalista apresenta uma quantidade abundante de personagens, o que pode dificultar o acompanhamento durante a leitura.
Outro fator estranho é a forma como ele transita de um capítulo para outro. Há capítulos que não têm um desfecho claro e, logo em seguida, o autor já inicia a história de outro país, como ocorre na transição da narrativa da África do Sul para a da Argélia.
No livro, o leitor se depara com diversas passagens curiosas. Algumas envolvendo incidentes perigosos, como quando tenta escapar, mas se depara com grupos armados, ou o relato impressionante de como é ser picado por um escorpião no meio da noite.